Um conto horrível e mal feito
Um punhado de palavras feias organizadas em um pequeno parágrafo não vale um conto artístico, pensou. Olhou para aquelas palavras, ficou perplexo com tamanho desajuste. Simplesmente elas não fazem uma boa sonoridade. São fracas e seus sentidos são esteticamente pobres, pensou mais. Resolveu, pois, escrever sobre como só estava em um estado de pensamento, um fluxo de raciocínio, aquela instância literária toda marcada de estudo psicanalítico, mas não colocou fé em sua escrita. Pensou agora sobre como estavam fracos os pensamentos, tão curtos e superficiais, a cada palavra nova no tecido textual, mais foi-se dobrando sobre si uma carência e tristeza de que “você é um incompetente”. Até agora não conseguira nem sequer descrever o quão ruins estavam aquelas palavras. Tão comuns e ordinárias, sem pesquisa, sem reflexão, sempre em um estado de “estou com pressa”, não há “ócio criativo”… Pensou, ainda, “olha só quantas palavras feias e clichês”. Preocupo-se com a extensão das sentenças, pois em algum mês ali disseram a ele que precisavam ser maiores, mas pensou infimamente mais e declarou-se inocente pois era uma escrita artística e, por fim, admitiu covardemente não haver nada de artístico naquele seu texto matinal, embora resguardasse ainda dúvidas sobre essa admissão. Havia pensado algo logo mais e deixou para lá, mas transcreveu: “você não conseguiu sequer tirar proveito daquele livro bonito que lera na semana retrasada, para inspiração ou deleite, para exercício analítico ou qualquer porcaria”. Está aí, escrevendo o maior de todos os clichês artísticos já imaginados pelos críticos e acadêmicos: a metalinguagem… De onde veio tanto pessimismo e criticidade a si mesmo? Observou como estava receoso de trocar pontuações e palavras em seu texto, achava que tudo o que saía de espontâneo precisava ser descrito e blindado contra a edição da posteridade, coisa que não comumente faz quando escreve. Pensou que isso sim pode ser bom, um texto saído sem edição direto da mente, mas lembrou que trocou um total de três pontuações e já quer desistir desse raciocínio. Lembrou-se do início: mas que palavras fracas, curtas, comuns. Adicionou: puxa, esse texto não pode ser publicado em nenhum lugar, imagine a vergonha… De que? Do texto? Não! Da insegurança, do pessimismo, temos que ser otimistas, confiantes, mentalmente saudáveis, cuidar de nós mesmos, a auto-estima tem que estar em dia. Mas, sabe, eu estou aí escrevendo essas fraquezas sem perceber, espontaneamente, estou até mesmo repetindo palavras como se não houvesse esforço nenhum, como se só quisesse despejar infinitas reclamações (que termo traumático, e consegui que fossem o oposto de infinitas) em um bloco de notas inofensivo que nada tinha a ver com isso e podia muito bem ser útil somente para anotar listas de compras ou afazeres do dia. Por que não consegues escrever sobre uma matéria independente, sem meta… Explorar as fronteiras da fruição? E interrompeu ali mesmo, com uma frasezinha de despedida.